E, admitamos, trabalhar com alguém de quem não gostamos não é rotina das mais agradáveis. Nessas horas, é preciso ter maturidade e ética. “Muitas vezes, as pessoas têm esse costume de dizer ‘Não fui com a cara’, mas isso é uma atitude imatura que devemos evitar”, afirma Nathana Lacerda, coach de imagem e reputação.
Nesse caso, segundo ela, vale fazer uma reflexão mais racional e pensar se existiu realmente alguma atitude grave. Se houve, você pode simplesmente dar um feedbackprofissional e objetivo para que a pessoa tenha a chance de corrigir esse comportamento.“Nossos maiores problemas de relacionamento acontecem porque não nos comunicamos”, opina Nathana.
Para Allan Fernando Lima Lopes, consultor de Recursos Humanos e coach de carreira, é natural convivermos com quem não gostamos no dia a dia profissional. “Isso faz parte de uma interpretação inconsciente, portanto, automática, que nosso cérebro gera ao interagir com qualquer pessoa. Nossa mente avalia o outro para entender se ele se parece conosco, com nossa visão de mundo e com nossos valores”, argumenta.
Ou seja, se nosso cérebro perceber que o colega de baia é diferente nesses aspectos, temos essa sensação de que não gostamos dele. "Devemos nos policiar conscientemente para interagir da melhor forma possível com qualquer pessoa, independente dessa sensação negativa”, sugere Lopes.
Administrando conflitos
A designer Beatriz Ferreira*, de São Paulo, sabe bem o que são tais diferenças profissionais. Ela assumiu o cargo de gerente de produtos em uma empresa do setor de moda e, depois de um tempo, começou a sentir "um certo peso e uma falta de conexão e aceitação” do time.
“Nessas horas, precisamos focar no trabalho e tocar. Tentei me aprimorar, entender meus erros e me encaixar. Manter o diálogo e pedir feedbacks é importante, mas também não podemos nos deixar apagar”, pondera.
Depois da demissão do seu chefe, com quem se dava muito bem, quem ocupou a cadeira foi um colega com o qual ela divergia em quase tudo. “Era competente e eu o admirava, mas o relacionamento não era harmônico. Tivemos uma conversa franca e foi excelente, mas, aos poucos, as diferenças voltaram a aparecer”, revela
Beatriz* engravidou, teve uma depressão gestacional e viu seu rendimento cair. Durante a licença-maternidade, aproveitou para refletir e seu sentimento de falta de pertencimento aumentou. “Quando voltei, fui desligada. Acho que às vezes você tenta, mas não há liga com o ambiente e seu time direto de trabalho. Tudo isso pode ser contornado e levado de forma profissional, mas não é sustentável a longo prazo”, acredita.
Como melhorar os relacionamentos
Algumas atitudes podem deixar o dia a dia profissional mais agradável e fazer com que você se relacione melhor com os parceiros de trabalho:
- Entenda que todos somos pessoas diferentes e que cada um pode perceber o mundo e interagir com ele da forma como bem entender.
- Aja de forma a respeitar o perfil de cada pessoa. Mesmo que o outro diga algo com que não concorda, respeite a opinião alheia. Se alguém cometeu um erro, converse e fale como se sente.
- Comporte-se de forma assertiva para que não sofra com as atitudes dos outros.
- Sempre que se sentir nervoso ou irritado, respire profundamente e conte até 10 segundos lentamente. Isso fará com que tenha tempo de pensar antes de agir. Muitos conflitos no ambiente de trabalho são agravados por respostas automáticas e impulsivas.
- Desenvolva sua inteligência emocional. Saiba identificar os momentos nos quais se sente chateado, irritado, incomodado e aprenda a lidar de forma madura com esses sentimentos, sendo capaz de se comunicar com tranquilidade e de forma respeitosa.
- Saiba escolher a melhor estratégia de resolução para cada caso, buscando aumentar os efeitos construtivos e minimizar os destrutivos, como sugere Luciana Ferreira, coach e presidente do grupo Elemento RH.
- Tenha bom senso, respeito e priorize a regra básica de fazer com o outro apenas aquilo que gostaria que fizessem com e para você. “Vale ouvir mais do que falar, não tentar ser o dono da verdade, escutar o ponto de vista do outro, pensar nos sentimentos do outro e na maneira mais efetiva de se comunicar com cada um”, lista Angelina Stockler, especialista em treinamento e gestão de equipes e estratégias comerciais.
- A empatia é o melhor caminho para se ter um bom relacionamento. Antes de julgar, se coloque no lugar do outro. Procure observar seus preconceitos e avalie se o que te incomoda não tem relação com algo que sente, ou seja, se o problema não está em você.
- “Guarde o sentimento para si mesmo, evite comentar com os outros o que sente em relação àquela pessoa. Não faça fofoca”, frisa a psicóloga Jane Gonçalves Vilaça da Silva.
- Permita-se ouvir mais o que o companheiro de trabalho tem a dizer, sem julgamentos. “São pequenos detalhes que podem fazer a diferença no dia a dia”, completa Roberta Omeltech, CEO da Omeltech Escola de Educação Corporativa.
* Nome alterado a pedido da entrevistada.
(Foto: Getty Images)