No Brasil, essa é a realidade de inúmeras famílias. Para ser mais exato, dados do IBGE mostram que cerca de 40% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres, sem a presença de um companheiro.
Geralmente, a ausência dessa figura masculina tende a significar uma carga extra de medo, dúvidas e insegurança, seja para uma nova ou já experiente mamãe.
Com o objetivo de jogar luz à essa questão tão comum, mas pouco discutida, convidamos mães que criam ou criaram seus filhos sozinhas a compartilharem as dificuldades e alegrias dessa maternidade tão corajosa.
Saiba o que uma mulher que faz as vezes de mãe e pai entende bem:
1. Sentir-se fortalecida nas dificuldades do dia a dia
“Uma das situações que eu considero mais difíceis como uma mãe que cria seus filhos sozinha é quando um deles fica doente. Correr para um hospital desacompanhada e ver aquele ser que tanto amamos sofrendo é algo muito difícil de bancar emocionalmente. Entretanto, essas e outras circunstâncias igualmente difíceis são coisas que fazem que uma ‘mãe sola’ torne-se uma mulher extremamente forte. Na minha opinião, aquela mamãe que cria seus filhos sozinha é sinônimo de coragem e força”, diz Flavia Herrero, 28 anos, coordenadora comercial, de São Paulo (SP), mãe de duas crianças, de 9 e 10 anos.
2. Gerenciar a pressão da família
“Faz apenas alguns meses que assumi o papel de ser mãe sola. Para mim, uma situação que se mostra muito presente é a pressão que recebo por parte da família. Como qualquer mãe, estou sempre em função do meu filho, pensando no seu melhor e no que posso proporcionar a ele. Considero normal que, às vezes, acabe me desligando um pouco disso tudo. Mas mesmo que isso aconteça apenas por alguns segundos, somos consideradas relapsas, egoístas, e acusadas de estarmos com a cabeça fora de propósito – seja por pessoas próximas ou não tão próximas assim. É difícil, pois muitas vezes ouvimos isso das pessoas das quais dependemos também, como nossos pais. Considero essa pressão desnecessária. Como mãe, estamos sempre buscando o melhor às nossas crias”, avalia Julia Souza*, 27 anos, geógrafa, de São Paulo (SP), mãe de um garoto de 3 anos e meio.
3. Receber conselhos demais
“Minha experiência mostra que, no geral, as pessoas esperam que a gente siga uma criação bem convencional. Entretanto, hoje existe uma série de linhas que trazem opções a ideias preconcebidas. Eu sempre tive uma tendência a seguir o alternativo, principalmente nas escolhas alimentares. E lembro que recebia muitos conselhos. Falavam pra eu dar leite, engrossante, isso e aquilo, porque ele era magrinho (por questão de porte mesmo). Hoje vejo que essa troca de ideias foi positiva. Acabei me tornando mais flexível”, acrescenta Julia.
4. Encarar o parto sozinha
“Me separei do pai do Piettro aos 5 meses de gestação. Desde então, somos eu e ele em tudo. Sem dúvidas, enfrentar o momento do parto sozinha foi algo muito marcante na minha vida. Estava tão tensa, sentindo tanta ansiedade, nervosismo e solidão, que acabei tendo uma complicação. Tudo acabou bem. Hoje entendo que essa era uma situação que eu precisava enfrentar. Lembro que todos aqueles sentimentos ruins sumiram no momento em que coloquei os meus olhos no Piettro. Agora, eu amadureci demais ao longo desse tempo. Sinto-me muito mais forte e faço o possível e o impossível por ele, que foi diagnosticado com dislexia. Não abro mão de lutar pelos seus direitos”, revela Thais Otoni, 33 anos, maquiadora e vitrinista, de São Paulo (SP). Piettro tem 10 anos.
5. Acreditar que tudo ficará bem
“Aos 29 anos e com uma bebezinha de 8 meses nos braços, me vi diante da responsabilidade de criar uma filha sozinha. Na década de 80, era comum deixar o emprego para cuidar exclusivamente dos filhos, até que eles fossem maiores. Eu havia feito essa escolha. Sem um trabalho fixo, a situação era bem nebulosa. Entretanto, minha mãe e irmãos sempre estiveram presentes para o que desse e viesse. Hoje, olho para trás e vejo que o mais importante foi sempre acreditar que tudo ficaria bem”, avalia Helen Ikeda, 58 anos, conservadora e restauradora de obras de arte em papel, de São Paulo (SP). Sua filha tem hoje 30 anos.
6. Criar um elo muito forte com a família
“Fiquei grávida muito nova. Na época, eu tinha 14 anos e o pai do Gustavo, apenas 15. Por sermos tão jovens, nunca tive expectativa de um relacionamento clássico de marido e mulher. Todas as minhas necessidades, durante e depois da gravidez, foram supridas pelos meus pais. Graças à ajuda deles eu pude ter um crescimento não apenas como mulher e mãe, mas também no âmbito profissional. Eu e meu filho também temos uma relação muito forte. De certa forma, somos um pouco irmãos. Acredito que, por termos uma idade mais próxima, eu o entendo muito, somos cúmplices. Também acho muito bonita a relação dele com o meu pai, que é o exemplo de figura masculina que ele tem”, comenta Biatriz Andreotti Saluti, 32 anos, supervisora de vendas, de Atibaia (SP). Gustavo é um jovem de 17 anos.
7. Lidar com a total ausência do pai
“Quando eu tinha 19 anos, minha filha nasceu. Não foi algo planejado. Seu pai me apoiou, mas depois de 2 anos nos separamos e as coisas começaram a mudar. Logo em seguida ele se mudou para outro estado com a justificativa de melhorar sua vida e, consequentemente, a da nossa filha, mas não foi isso que aconteceu. Durante esse período ela foi visitá-lo apenas duas vezes, e eu nunca recebi um telefonema ou mensagem dele perguntando se eu precisava de algum auxílio. A justificativa para a sua ausência era sempre o excesso de trabalho, sendo que eu sempre tive que trabalhar muito para sustentá-la, educá-la, dar carinho, apoio e afeto”, lamenta Bárbara Duarte*, 35 anos, consultora de viagem, do Rio de Janeiro (RJ), mãe de uma jovem de 15 anos.